Governador João Azevêdo não implementa Plano Estadual de Recursos Hídricos e compromete abastecimento em pelo menos 18 cidades do Brejo da Paraíba

Por Redação - Além do Fato em 17/09/2021 às 14:54:11

A vida de dona Dalvanira Andrade é juntar água no quintal em vários recipientes para poder fazer as tarefas de casa. A rotina desgastante da costureira é no bairro Santa Mônica, em Solânea, na Paraíba, cidade que sofre com uma crise severa no abastecimento devido à estiagem. Água nas torneiras é só de vez em quando.

"O carro pipa deixa na caixa e a gente traz para cá. A Cagepa está ligando de quinze em quinze dias. Banho de chuveiro aqui ninguém pode tomar", declara Dalvanira Andrade, costureira.

Por conta da crise do abastecimento, a prefeitura de Solânea instalou reservatório de mil litros em vários pontos da cidade. A Cagepa faz o abastecimento deles duas vezes por semana e os moradores vêm com baldes para levar o que conseguirem para casa. Quem não for rápido, pode ficar sem água.

A situação é a mesma em Bananeiras, ao lado de Solânea. Alvarita de Melo diz que está gastando bastante com a compra de água de caminhões-pipa. Com isso, ela consegue encher os reservatórios de casa para ter mais tranquilidade.

A barragem de Canafístula II, responsável pelo abastecimento da região do Brejo, está praticamente seca. De acordo com a Agência Executiva de Gestão das Águas (Aesa), da capacidade total, de 4 milhões de m³, não restam nem 3%.

Segundo a Cagepa, nos últimos oito anos de poucas chuvas, os açudes que abastecem o Brejo não acumularam mais do que 35% da capacidade total. E este ano o período chuvoso tem sido muito fraco. A situação de abastecimento em muitos municípios da região já é de colapso.

De acordo com Edson Almeida, Gerente Comercial da Cagepa no Brejo, 18 cidades estão em regime de abastecimento e colapso. "O canal de Canafístula I abastece cinco cidades e já está entrando em colapso. Essa semana é o último ciclo de abastecimento, já estamos captando no volume morto. O canal de Canafístula II atende Solânea, Bananeiras, Cacimba de Dentro, Araruna, Dona Inês, Tacima, Richão e Damião. Solânea de Bananeiras estamos abastecendo de forma quinzenal", explica.

Plano Estadual de Recursos Hídricos

O desabastecimento de água tratada no Brejo poderia ser prevenido ou resolvido se a Paraíba atualizasse regularmente o seu Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH). O que existe foi elaborado em 2006, mas apenas em 2016 o governo do Estado iniciou uma atualização que deveria terminar em 2018 e foi prorrogada por mais dois anos.

Além de obrigação imposta por lei de 1996, o PERH é fundamental para o gerenciamento, monitoramento e planejamento dos recursos hídricos do Estado. O Plano deve ser atualizado anualmente, pelo menos, inclusive para subsidiar medidas que evitem, por exemplo, o colapso no abastecimento de cidades como Bananeiras e Solânea, anunciado oficialmente semana passada.

Conforme ressalta o documento de sua criação, o PERH contém "importantes documentos sobre estudos básicos e regionalização, cenarização de alternativas e propostas de programas" que atendam a uma política de recursos hídricos digna do nome e acabem com o improviso das ações emergenciais de curto prazo e resultados incertos.

Nos termos da Lei nº 6.308, de 2 de julho de 1996, que instituiu a Política Estadual de Recursos Hídricos, o PERH deve ser avaliado anualmente pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos a partir de relatório sobre a situação das bacias hidrográficas da Paraíba. O documento serve, inclusive, para atualizar o próprio orçamento de investimentos na área.

Por sua vez, o relatório a que se refere a lei deve conter informações seguras e precisas sobre qualidade, disponibilidade e demanda de água em todo o Estado, definindo diretrizes que orientem os planos diretores municipais sobre crescimento urbano, proteção de mananciais, exploração mineral, irrigação, saneamento, pesca e piscicultura.

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